sexta-feira, 10 de junho de 2011

Antoine de Saint-Exupéry

"De que nós estamos precisando para nascer para a vida? Precisamos nos dar. Sentimos obscuramente que homem não pode se comunicar com homem senão através de uma mesma imagem. Os pilotos encontram-se quando lutam na mesma linha aérea. Os hitlerianos quando se sacrificam pelo mesmo Hitler. (...) Mas não precisamos de guerra para encontrar o calor do ombro do próximo se corremos pelo mesmo objetivo. A guerra engananos. O ódio não acrescenta coisa alguma ao calor da corrida (...) Quando nos encaminharmos na direção certa, aquela que tomamos na origem, ao despertarmos do barro, somente então seremos felizes. Só então poderemos viver em paz, porque o que dá um sentido à vida dá um sentido à morte." (A Paz ou a Guerra?) 


Ano passado ganhei um dos melhores presentes de aniversário da vida: um livro que se tornou o meu preferido. Chama-se "Um Sentido Para a Vida" cujo autor é o título desse post e autor da conhecidíssima obra "O Pequeno Príncipe". Poucos sabem que ele também escreveu obras para adultos e eu só o soube nesse dia, como também que seus escritos são dignos de um título de excelência.
Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) foi escritor, jornalista, ilustrador e piloto durante a Segunda Guerra Mundial. Como piloto e combatente, realizou missões na Rússia, Espanha, Egito, França e outros e as reportou em cartas a jornais franceses e canadenses. Algumas dessas cartas estão contidas no livro que citei, e demonstram todo o horror pela guerra e o ódio por um tempo que transforma os homens em robôs e lhe tira até o tempo para pensar. Em algumas das cartas, ele descreve de forma poética a experiência de voar; em outras descorre sobre o tema da modernidade, enfatizando a importância de "se dar um sentido à vida dos homens."
Em 31 de julho de 1944, Saint-Exupéry decolou da Córsega numa missão de reconhecimento sobre a França ocupada com destino a Grenoble. Devia estar de volta à 0h30. Às 3h30, foi oficialmente dado como desaparecido. Em abril de 2004 foram encontrados destroços de avião no Mar Mediterrâneo, próximo de Marselha, que foram identificados como sua aeronave. Para saber mais de sua morte e reconhecimento: http://www.consciencia.net/2004/mes/05/nyt-saint-exupery.html
Admiro suas obras pela poesia e pela profundidade. São universalizantes pois tocam em princípios humanos como a guerra e sentido da vida e são recheadas de frases de efeito ("Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas"). São delicadas, originais e contemporâneas. Tudo isso tem um nome: genialidade.

Trechos do livro:

"Escutem, meus amigos americanos, parece que há algo de novo em formação no nosso planeta. O progresso material dos tempos modernos uniu realmente a humanidade por uma espécie de sistema nervoso. Os contatos são inúmeros. As comunicações são instantâneas. Estamos materialmente ligados como as células de um mesmo corpo. Este corpo, porém, não possui a mesma alma. Este organismo ainda não tomou consciência de si próprio. A mão não sente que pertence ao mesmo corpo dos olhos." (Pleito pela Paz)

"Depois, em torno de mim, tudo pulou.
Não consigo falar sobre os dois minutos que se seguiram. Na minha lembrança só emergem pensamentos rudimentares, esboços de raciocínios, observações simples. Não posso fazer drama porque não existiu drama. Não posso senão alinhar meus pensamentos numa espécie de ordem cronológica.
Em primeiro lugar, eu não estava mais avançando. Tenho obliquado sobre a direita para corrigir uma súbita inclinação, vi a paisagem imobiliar-se pouco a pouco e depois parar definitivamente. Não estava ganhando terreno. Minhas asas não mais mordiam o desenho do solo. Via a terra oscilar, rodar, mas sempre no mesmo local: o avião estava derrapando como sobre uma engrenagem gasta." (O Piloto e as Forças da Natureza)

"Poderá se confundir essa aceitação resignada com espírito de sacrifício ou grandeza moral. Seria contudo um grande erro. Os elos de amor entre o homem de hoje e os seres e as coisas são tão pouco estreitos, tão pouco densos que o homem já não sente a ausência como outrora. Lembro aquela terrível história judaica: 'Vais então para lá? Como ficarás longe! - Londe de quê?' O 'onde' que eles deixaram não é senão um feixe de hábitos. Nesta época de divórcios, os homens divorciam-se das coisas com idêntica facilidade. Mudam com facilidade de geladeira e de casa, também. E de mulher. E de religião. E de partido. Nem sequer se pode ser infiel: infiel a quê? Longe de onde e infiel a quê? Deserto de homens." (Carta ao General 'X')

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