quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Príncipes de Serendip

"Admiro a Ciência, é claro. Mas também admiro a Sabedoria."Saint-Exupéry

No país de Serendip (hoje Sri Lanka) há muito tempo atrás, havia um rei chamado Giaffer, o qual tinha três filhos. A estes, proporcionou o monarca a melhor educação sob a tutela dos mais sábios mestres, tanto em matéria de ciência quanto de moral. Ao final do processo educacional, quis Giaffer testar os filhos e lhes chamando disse: filhos, estou velho e já governei por muito tempo; vou me retirar do governo para viver uma vida de busca espiritual. Quero que vocês tomem conta do Reino. Um a um, os três renunciaram à oferta, dizendo não serem dignos desse poder. Surpreendido com a sabedoria deles, mas não satisfeito, o Rei finge-se furioso com a negação e os manda para uma longa jornada a caminho das terras do rei Berano.
Lá, o rei se impressiona com a sagacidade dos jovens e lhes proporciona várias tarefas, todas cumpridas, inclusive a de auxiliar Berano na superação de uma paixão. Neste conto árabe contado no Mundo Ocidental por Horace Walpole: “suas altezas realizavam contínuas descobertas em suas viagens. Descobertas por acidente e por sagacidade, de coisas que, a princípio, não estavam buscando.” Por exemplo, um deles descobre que porque a grama do caminho estava comida do lado esquerdo, a mula que ali passara era cega do olho direito e andava sempre na beira da estrada pelo lado esquerdo.
Através de Horace e suas correspondências com Rei George II (Florença) o termo Serendipidade foi criado. Ainda não presente nos dicionários de língua portuguesa, serendipidade define a capacidade de fazer descobertas inusitadas do acaso, de no meio do caos, perceber solução para dilemas. Advém da capacidade de observação e reflexão. Alguns a chamam insight.
Flemimg estudava estafilococos (tipo de bactérias) em placas de petri encubando-os; entretanto, não se sabe porque deixou umas placas certa vez sobre a bancada do laboratório. Ali, as placas receberam esporos de um fungo, Penicillium notatum, os quais cresceram sobre a cultura de bactérias. Pensando ter perdido seu trabalho, Flemimng antes de jogar fora, teve o insight ao perceber que em torno nos fungos habia uma zona clara sem Estafilococos. Ele investigou a toxina ali presente e descobriu a penicilina, princípio dos antibióticos – uma das maiores descobertas médicas de todos os tempos.
Através de um acontecimento aleatório e não provocado, ele foi capaz de observar, perceber e produzir conhecimento. Muitos cientistas antes dele tiveram suas culturas bacterianas prejudicadas por fungos, mas somente ele foi capaz de aproveitar um fato corriqueiro e aplicá-lo na solução de um dilema maior. Isso é serendipidade.
Como eu escrevi no post anterior, a vida é um sistema complexo, sobre o qual apesar de nosso desejo e esforços não temos controle. Fatos aleatórios e inesperados acontecem o tempo todo e podemos perder o sono tentando encontrar motivos, culpas, justiça nos problemas e fatos. A Ciência se baseia em teses, testes, repetições e manipulação. Demanda esforço, estudo e dedicação. Entretanto, descobertas muito importantes, tal qual a da penicilina foram iniciadas com eventos inesperados. A vida tal como a ciência em parte é controlada pelos nossos sonhos e esforços. Entretando, para o que não é controlado, é preciso serendipidade, sagacidade, jogo de cintura e o mais importante, fé.
Pascal escreveu que "o acaso só favorece a mente preparada". Fleming tinha a mente preparada através dos estudos para a descoberta da penicilina. Na vida, para estarmos preparados para dar ordem ao caos dos acontecimentos aleatórios, é necessário mais do que Ciência, é necessário Serendipidade, é necessário Sabedoria. Como Saint-Exupéry escreveu, "O teórico acredita na lógica. Ele julga que despreza o sonho, a intuição e a poesia; não percebe que essas três fadas se fantasiaram para seduzi-lo com a um apaixonado de 15 anos. Ele não sabe que  lhes deve as suas mais belas descobertas."
Foi da minha angústia de entender fatos inesperados,  para dar lógica à bagunça de minha mente que iniciei este blog. Desejo escrever aqui sobre filmes, poemas, notícias, livros e fatos que me fizeram refletir e descobrir algum princípio de sabedoria. Desejo que através dele, meus leitores também façam descobertas sobre o universo e seu caos. 
Milan Kundera diz em Insustentável leveza do ser que "o homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento." Os dias muitas vezes parecem peças de um quebra-cabeça gigante; poderemos chegar ao fim e não ver nada ou perceber que montamos tudo errado. Mas acredito que há pessoas que chegam à enxergar uma figura, e alguns muito abençoados vêem uma obra de arte. Gostaria de ser uma das abençoadas e ver um sentido para meus dias. Quando eu puder ver mais do que como num espelho, mas face a face e conhecer como sou conhecida (1 Coríntios 13:12), quero perceber sentido para o caos da existência. Até lá, buscarei a Sabedoria.

Peso da Imprevisibilidade


Está escuro e quieto, salvo por esporádicas sirenes e o ronco da minha amiga. Ela está agora provavelmente sonhando coisas malucas e desconexas – cachoeiras infindáveis, namorados desconhecidos, monstros sem cabeça – enquanto eu lido com a bagunça da minha vida. Por que nasci na minha família? Por que certos amores, por mais que ambos se esforcem para a felicidade do outro, simplesmente ruem? Lido com a bagunça da Vida. Por que pessoas realmente queridas morrem tão cedo? Por que os que mais sofrem com a guerra e a injustiça são os inocentes? Por quê?
Parece às vezes a Vida um sonho desconexo, um caos, sobre o qual tenho pouco controle. Nas aulas de física clássica no Ensino Médio, ensinaram que para cada ação existe uma reação; e me ensinaram os professores da vida que para cada ato meu, receberia o que me era justo por ele. “Sorria para a vida e ela sorrirá para você”, falam no Orkut; não beba demasiadamente e não terás cirrose. Entretanto, esqueceram de dizer que naqueles probleminhas de calcular velocidade numa queda livre, existiam inúmeras variáveis a serem desconsideradas. E que na minha vida, existem infindáveis variáveis também sobre as quais não chegarei nem perto de controlá-las.
Na medicina, certas doenças são passíveis de prevenção através de bons hábitos de vida; o melhor exemplo são as cardiovasculares (principal causa de mortalidade geral brasileira e mundial), em que fatores como tabagismo, etilismo, diabetes, hipercolesteremia, sedentarismo e obesidade se combatidos diminuem muito a possibilidade de desenvolvimento de aterosclerose e suas complicações (como infarto agudo do miocárdio por exemplo). Entretanto, mesmo para aterosclerose existem fatores de desenvolvimento sobre os quais não é possível atuar como idade, sexo masculino ou predisposição familiar. Logo falar sinceramente de ação e reação torna-se complicado.
Mais complicado torna-se justificar doenças de origem genética em que a mutação num cromossomo e por consequência o prejuízo de uma enzima, acaba por senão impedir a vida, privá-la de qualidade. Exemplo clássico é a Fibrose Cística, doença genética autossômica e recessiva, em que geralmente a mutação num único gene no cromossomo 7 leva prejuízo aos canais de Cloro do organismo e consequentemente o prejuízo do funcionamento de glândulas exócrinas. A pessoa acometida pode apresentar infecções respiratórias frequentes,   afecções gastrointestinais, podendo provavelmente morrer devido às complicações.
Buscar a culpa num caso desses é incoerente, como fizeram os discípulos de Jesus quando este encontrara um cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”. Respondeu Jesus: “Nem ele, nem seus pais.” Pensar em justiça é complicado. É complexo.
Talvez complexidade seja parte da explicação. Voltando aos probleminhas de física do colegial, lembramos que todas as variáveis eram fixadas e o que era complexo demais para nossa cabecinha adolescente era desconsiderado. Isso para que os sistemas analisados fossem  lineares, simples e previsíveis. Entretanto, a física avança para além, ela avança para os chamados sistemas complexos.
Sistemas complexos são como um relógio analógico, daqueles cheios de engrenagens reguladinhas para que os ponteiros se movimentem no exato intervalo de tempo.  Se uma das engrenagens parar de funcionar, tudo pára, ou seja, o funcionamento do todo depende do funcionamento de cada parte. Entretanto relógios são reguláveis, previsíveis, e sistemas complexos tendem a ser imprevisíveis, então é necessário um exemplo melhor. Como Medicina é meu poço de exemplos preferido, um sistema complexo é o corpo humano. O que é o corpo humano se não um amontoado de células vivendo juntas, as quais dependem do conjunto para sobreviverem?
Células nervosas não funcionam sem as células do sangue para as suprir de oxigênio, mas o sangue não receberá oxigênio se os músculos da respiração não fizerem o oxigênio passar pela barreira alvéolo-capilar, e os músculos são por sua vez controlados pelas células do sistemas nervoso. Pensamos estar num equilíbrio, numa interação entre todas as partes que permite a vida. Entretanto, inúmeras falhas imprevisíveis externas ou internas podem ocorrer – um sangramento, uma mutação, uma infecção – impedindo o bom funcionamento e ocasionando morte.
Enquanto os físicos estudam a Teoria do Caos, ou seja, a lógica da imprevisibilidade de sistemas complexos, tais como o universo, e os médicos tentam buscar saídas para as mudanças do funcionamento do organismo, eu na minha cama estudo minha vida. Ela tal como um sistema complexo é cheia da fatos que simplesmente não estão sob meu controle. Desconheço o novo amigo que farei ao cumprir uma prova na faculdade amanhã, desconheço a pessoa que poderá embriagada me atropelar ou a alguém a quem eu amo, desconheço o dia e a hora da minha morte. Sou pequenina parte de uma sociedade, de um universo, ao qual posso influenciar, mas jamais controlar ou prever.
Sob o peso da incerteza, lembro da história dos príncipes de Serendip. Pensando neles vou adormecer, passando do caos da realidade, para o caos do meu inconsciente.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Recomeço

Esse poema é para um amigo meu, que sabe quem é. E para quem precisa de forças para levantar amanhã e começar um novo dia.




(recomeço)
Não importa onde você parou, em q momento da vida você cansou, oq importa é q sempre é possível e necessário “Recomeçar”. 
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo,  renovar as esperanças na vida e o mais importante, acreditar em você de novo. 
Sofreu muito nesse período? Foi aprendizado. Chorou muito? Foi limpeza da alma. Ficou com raiva das pessoas? Foi p perdoá-las um dia. 
Tem tanta gente esperando apenas um sorriso seu para “chegar” perto de vc. 
Recomeçar, hoje é um bom dia p começar novos desafios. 
Ir alto, sonhe alto, queira o melhor do melhor, pensando assim trazemos para nós aquilo que desejamos. Se pensarmos pequeno coisas pequenas teremos Já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente lutarmos pelo melhor, o melhor vai se instalar em nossa vida.
“Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura.” 


(Drummond)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

When You Believe


linda interpretação das Celtic Woman:



Many nights we prayed, with no proof anyone could hear
In our hearts a hopeful song, we barely understood
Now we are not afraid, although we know there's much to fear
We were moving mountains long, before we knew we could

There can be miracles, when you believe
Though hope is frail, It's hard to kill
Who knows what miracles, you can achieve
When you believe, somehow you will
You will when you believe

In this time of fear, when prayer so often proves in vain
Hope seems like the summer birds, too swiftly flown away
Yet now I'm standing here, my heart so full I can't explain
Seeking faith and speaking words, I'd never thought I'd say

There can be miracles, When you believe (When you believe)
Though hope is frail, It's hard to kill
Who knows what miracles, You can achieve (You can achieve)
When you believe, somehow you will
You will when you believe

They don't always happen when you ask
And it's easy to give in to your fear
But when you're blinded by your pain
Can't see you way clear through the rain
A small but still resilient voice
Says help is very near

There can be miracles (miracles)
When you believe (When you believe)
Though hope is frail
It's hard to kill
Who knows what miracles
You can achieve (You can achieve)
When you believe
Somehow you will
Somehow you will
You will when you believe
You will when you, you will when you believe
Just believe, just believe
You will when you believe

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Testando a teoria da relatividade

 A relatividade não é possível de ser testada em nossa realidade física, por que aplicá-la a meus princípios?

domingo, 17 de outubro de 2010

670 mil doláres

   
"Nós, porém, não somos cupins. Somos homens" Saint-Exupéry*





   22 milhões de dólares foi o que custou o resgate dos 32 mineiros chilenos e um boliviano que se encontravam presos na mina que desabou há aproximadamente um mês. Conta que foi paga por empresas multinacionais interessadas na grande audiência da operação – que ultrapassou a da Copa do Mundo. Por aritmética simples, chegaremos à conclusão que o valor da vida de cada um deles é de cerca de 670 mil dólares.
   Se você pudesse dar um valor a sua vida, de quanto seria? 670 mil dólares? Mais? Menos? Que critério você utilizaria para o cálculo?
   Para minha vida consideraria os investimentos feitos ano a ano em meu crescimento por outras pessoas, como meus pais e a sociedade. Somaria a quantidade de fraldas que usei, às refeições que fiz, lugares que viajei, roupas que vesti, contas de luz, aluguel, água e de escolas particulares; não poderia desconsiderar os investimentos da sociedade especialmente na minha educação já que estudo numa Universidade pública. Quanto isso daria? Não faço idéia; sei apenas que se tivesse que pagar por isso através do meu trabalho futuro acredito que demoraria minha vida inteira. E ainda estaria em débito.
   Nessa lógica, a contribuição trabalhista futura de cada mineiro deveria chegar a 670 mil dólares, pois senão não valeriam o custo do salvamento. Pessoas poderiam ter morrido no empreendimento e mesmo assim seria justificável o sacrifício? A questão, entretanto não deveria ser salvar um trabalhador entre tantos outros, 30 seres humanos entre 6 bilhões, como um cupim num cupinzeiro, mas de salvar uma consciência única.
   Dentro do crânio de cada mineiro existe um cérebro, uma mente, “um império” como diria Saint-Exupéry, com experiências que jamais poderão ser resgatadas após a morte. Família, livros, idéias, amores, amigos, manias, sonhos, gestos; todos que poderão ser esquecidos ou deixar sua marca e lembrança para as próximas gerações. “O ancestral desse mineiro desenhou, em certa ocasião, uma rena na parede de uma caverna, e esse seu gesto, duzentos mil anos mais tarde, ainda está irradiando. Ainda nos emociona. Prolonga-se, ainda em nós. Um gesto de um homem é uma fonte eterna.” S.E.
   Quanto a mim? Não desejo que meus pensamentos morram na escuridão de meu crânio, por isso começo a compartilhá-los hoje. Gosto da serendipidade, de acasos que me levam a descobertas boas, de acontecimentos que me levam a pensar no sentido mais profundo da vida, de fatos que ocorrem sem que eu os tenha planejado, mas que me levam a acreditar no bem, no amor e no valor humanos. Luis Pasteur disse que o acaso só favorece a mente preparada, por isso leio, vejo filmes, oro, e agora escrevo.
   E você? Já chegou à conclusão sobre seu valor? Desista da aritmética, não será possível calcular; considere seus gostos, desejos e amores; considere seus amigos, suas experiências, suas comidas favoritas; considere suas músicas, seus estudos, suas idéias. Eles são seu valor. Não os deixe no escuro!