domingo, 30 de janeiro de 2011

Império das Idéias

  Essa foi minha última semana de férias e para aproveitar, combinei com uns amigos de assistirmos ao filme A rede social, do diretor Davis Finsher, lançado aqui no Brasil em Dezembro passado. Talvez não por coincidência na mesma época de estréia do longa aqui, a empresa Facebook, através de um novo investimento, valorizou-se em 50 bilhões de dólares. A princípio esperava que a trama mostrasse mais uma idealização de um empresário de sucesso, “self-made”, que através de inteligência e disciplina irrepreensíveis conseguiu alcançar sucesso no mundo dos negócios. Entretanto o filme se supera ao mostrar o lado humano, falho e ambicioso dos dois jovens co-criadores do site, que hoje ultrapassa 500 milhões de usuários.

  Eduardo Saverin, o brasileiro co-fundador, comentou num post a CNBC em Outubro de 2010 que teve a impressão que o filme pareceu ser feito para ser divertido e não fiel aos fatos. Ele enfatizou entretanto o poder da criatividade e do empreendedorismo como base da criação de produtos e empresas transformadores da realidade. “I hope that this film inspires countless others to create and take that leap to start a new business. With a little luck, you might even change the world.”

  A capacidade de captar necessidades, planejar idéias para supri-las e realizar ações inovadoras é o que fez empresas como Facebook surgirem e crescerem. Foi o que fez crescer o conhecimento médico, fez surgir a anestesia ou a penicilina. Como diz Saverin, você pode ser um estudante e transformar o mundo. True innovation is blind. Muitas questões permanecem irrespondidas na busca da cura do câncer ou na assistência de saúde de vítimas da pobreza, por exemplo. E pode ser que estudantes como eu ou você, cheios de ambições e propensos a falhas, poderão vir a encontrar soluções. Dentro do crânio de cada um reside um império.

  Monteiro Lobato escreveu : “Loucura? Sonho? Tudo é loucura ou sonho no começo. Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira, mas tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum.” Eu desejo nesse meu início de ano letivo que tenhamos em 2011 sonhos e loucuras capazes de transformar o mundo. Espero que não duvidemos de que mudanças e avanços esperam para serem realizados e que trabalhemos todos os dias por isso. Trabalhemos seja na pesquisa científica, seja na realização de projetos sociais, mas que sejamos empreendedores da saúde mundial.

Um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai

Sabedoria sertaneja



Link do Zezé de Camargo recitando: http://www.youtube.com/watch?v=zPDWETdx-PY

Couro De Boi
Composição: Tedy Vieira / Palmeira

Declamado: 


"Conheço um velho ditado que é do tempo do Zagai 
Diz que um pai trata dez filhos, dez filhos não trata um pai 
Sentindo o peso dos anos sem poder mais trabalhar 
O velho peão estradeiro com seu filho foi morar 
O rapaz era casado e a mulher deu de implicar 
Você manda o velho embora se não quiser que eu vá 
E o rapaz coração duro com seu velho foi falar": 



Cantado:



Para o senhor se mudar meu pai eu vim lhe pedir 
Hoje aqui da minha casa o senhor tem que sair 
Leva este couro de boi que eu acabei de curtir 
Pra lhe servir de coberta onde o senhor dormir 



O pobre velho calado pegou o couro e saiu 
Seu neto de oito anos que aquela cena assistiu 
Correu atrás do avô seu paletó sacudiu 
Metade daquele couro chorando ele pediu 



O velhinho comovido pra não ver o neto chorando 
Partiu o couro no meio e ao netinho foi dando 
O menino chegou em casa, seu pai foi perguntando 
Pra que você quer este couro que seu avô ia levando 



Disse o menino ao pai um dia vou me casar 
O senhor vai ficar velho e comigo vem morar 
Pode ser que aconteça de nós não se combinar 
Esta metade do couro vou dar pro senhor levar



quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Intimidade

Intimidade é uma palavra de cinco sílabas que quer dizer: eis meu coração e minha alma, favor moê-los, fazer deles um hambúrguer. Bom apetite!
É tão desejada quanto temida, difícil de se viver com e impossível de se viver sem. Intimidade também está ligada a três coisas inevitáveis: família, romance e certos amigos. Existem coisas das quais você não pode escapar. E outras das quais preferiria não ver.
Gostaria que houvesse um livro com regras para intimidade. Algum tipo de guia que te avisasse quando você ultrapassasse a linha. Seria bom se pudéssemos prever. Mas a intimidade não pode ser classificada. Você a agarra onde puder e a mantém por quanto tempo puder. E quanto às regras, talvez não exista nenhuma. Talvez as regras da intimidade sejam algo que você tem que definir por si mesmo.

Meredith Grey (Grey`s Anatomy)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O Labirinto do Fauno

"Melhor é derramar o seu sangue do que o sangue de um inocente"



O complexo comercial de Interlagos, localizado na região sul de São Paulo, realizará entre os dias 13 e 16 de janeiro de 2011 um concurso cultural sobre Contos de Fadas, cujos prêmios serão dois carros 0km. Para saber mais, acesse o blog do Shopping: www.interlagos.com.br/novidades/ Inclusive, se você decidir participar, aviso que concorrerá com minha cunhada que está empenhada nos estudos, logo se esforce (apesar de que já darei pequena ajuda nesse post)!

O concurso me fez lembrar de um dos meus filmes favoritos: O Labirinto do Fauno, do cineasta mexicano Guillermo Del Toro e ganhador de 3 Oscars (fotografia, direção de arte e maquiagem). Para quem não viu, assista o trailer no youtube: www.youtube.com/watch?v=M09mCcVgrsA . Nele é narrada a história de Ofélia (Ivana Baquero), menina dos seus 12 anos, quieta e sonhadora, a qual vive no cenário da sociedade espanhola de 1944, após a guerra civil. Buscando fugir da realidade insuportável do medo do padrasto, da violência social e da preocupação com a mãe grávida, apega-se aos livros e encontra no pensamento mágico, típico da criança, um modo de tentar lutar contra o mal que a cerca.

Um conto de fadas, segundo Sheldon Cashdan, autor de Os Sete Pecados Capitais nos Contos de Fadas, é uma jornada em busca da auto-descoberta. A narrativa do filme assemelha-se a um conto de fadas moderno, e é divida portanto em quatro fases:

1) TRAVESSIA: o Herói, nossa pequena espanhola, vai a uma terra diferente, longe de seu lar. Sua mãe Carmen (Ariadna Gil), grávida do filho de um comandante militar fascista Vidal (Sergi López), vai morar num quartel/fazenda sob o comando dele, um insensível tirano.

2) ENCONTRO: com medo das ameaças que a cercam, Ofélia se fecha em seu mundo de imaginação literária, onde encontra o Fauno, ser meio homem, meio cavalo; meio amigo, meio inimigo. Este revela que a menina é a última de uma raça antiga, uma princesa que retornou e pela qual muito tempo esperou-se.

3) CONQUISTA: desafiada pela criatura, a menina entra numa sequência de 3 desafios a serem completados antes da Lua Cheia, para que receba novamente o trono e possa triunfar sobre o mal que a cerca.

4) CELEBRAÇÃO: não contarei para não estragar o gostinho de suspense; basta dizer que a vitória final é inesperada.

Muitas são as interpretações críticas atribuídas ao filme (se o fauno é ou não real, por exemplo), e a que estou dando é apenas mais uma, não tendo a pretensão gananciosa de estar certa. Porém, acredito que uma obra de arte é boa quando não parece que nós a estamos vendo, mas ela a nós. Sei que consegui recuperar através da protagonista memórias minhas de infância, nas quais me imaginava uma heroína ao conseguir de maneira mágica amenizar a dureza dos fatos e das pessoas. Nesse sentido, O Labirinto do Fauno traz lições aparentemente infantis para o mundo chamado adulto; é como se Ofélia fosse um canal que traz a criança inconsciente escondida (id) para ser encarada novamente pela persona do eu.

Questões além do escopo individual também são tratadas, especialmente sobre a problemática da tirania dos mais abastados, um fenômeno constante na história humana. O comandante Vidal representa o então governo nacionalista-fascista de Francisco Franco o qual apoiava interesses de latifundiários e católicos; enquanto isso espreita na floresta uma guerrilha de rebeldes defensores das necessidades dos trabalhadores. É interessante notar que enquanto os trabalhadores recebem apenas uma porção de pão diária, Vidal e seus convidados em outra cena se deliciam num farto banquete.

Cena complexa, “intensa e visceral” segundo del Toro, que se refere subjetivamente a esse tema, é aquela em que Ofélia, num dos desafios propostos pelo Fauno, encontra o demônio devorador de crianças, O Homem Pálido: http://www.youtube.com/watch?v=n9YD2PFF31E




Repare que o monstro está sentado diante de uma mesa com muitos alimentos, mas se levanta afim de devorar a garota quando ela faminta apenas colhe uma uva. Nas paredes do salão estão figuras que remetem a ícones religiosos como “Saturno devorando seu filho”, do pintor espanhol Goya. Tal cena representa a descoberta pela garota da realidade da privação dos mais necessitados cruelmente imposta pelos abastados e avarentos.

Característica marcante das obras de Goya é o contraste entre tons claros e escuros, a qual serviu de inspiração para a fotografia do filme, em que nas cenas de realidade, a escuridão predominou, enquanto claras eram as cenas fantasiosas. Nas palavras do diretor, era vital se aproximar, de maneira diferente, do mundo real e do imaginário. Um deveria ser frio, inclusive glacial, enquanto que o outro tinha que ser muito mais quente, mais vivo, desde o ponto de vista estético. O contrate e a aproximação dos dois mundos é outro ponto chave para o entendimento do filme como estética ou como narrativa.

Contos de fadas não precisam ter uma lição de moral final, porém muitos a apresentam, o que acredito se repetir nesse conto em particular. Se houver uma palavra para resumi-lo, esta seria conflito; conflito de tonalidades entre luz e escuridão, conflito ente o feminino e o masculino (Mercedez e Vidal), entre bondade e tirania, entre fome e abundância, conflito interno entre os elementos contraditórios da própria mente, conflito externo entre explorados e exploradores. Entre todos esses, Ofélia assim como cada personagem teve de fazer uma escolha; mas como criança ela representa a esperança, pois “a inocência possui um poder que o mal não imagina”.