segunda-feira, 25 de abril de 2011

Não sei brincar em ser café com leite

“Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitava-me ao sol, 
deixando a descoberto, não somente o meu corpo, como também a minha alma.
Aos homens, eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se 

enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam 

de se enamorar.” GGM




Eu não quero um amor pela metade. Eu não como pela metade, não durmo pela metade, eu não tomo banho pela metade, pra que amar se não for por completo? A geração Y vive na era da inconstância e da adaptação, das múltiplas atividades, mil janelas na Internet, muitos amigos e festas, muitos amores. Se fosse um link no meu Wall do Facebook, eu não curtiria essa maneira de se relacionar; e se tivesse a opção, eu a descurtiria.

O ganhador do prêmio Nobel de literatura, Gabriel Garcia Márquez, escreveu certa vez exatamente o desejo que pulsa no meu âmago. "Não sinto nada mais ou menos, ou eu gosto ou não gosto. Não sei sentir em doses homeopáticas. Preciso e gosto de intensidade, mesmo que ela seja ilusória e se não for assim, prefiro que não seja. Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada”. E a meu ver, grandes histórias só se constroem através de paciência, abnegação e integridade de caráter. 

Já escolhi o curso mais cobiçado do vestibular, já dormi a 3 mil metros de altura num frio de menos 5 graus centígrados, já enfrentei problemas familiares que não ouso nem lembrar com freqüência, já falei verdades sem nem parar para ponderar palavras. Nessas ocasiões tive medo, mas a vontade de tentar e fazer história, bem ou mal sucedida, era maior. Alguns chamam isso de coragem, mas às vezes chega a ser tolice. Gosto instintivamente de me dedicar ao que faço; com o amor não poderia ser diferente.

O amor, porém, esse sim me assusta. E esse medo não vem da falta de vontade ou do suposto tolhimento da liberdade, mas antes de não querer ser amada de forma incompleta. Não tenho paciência com mediocridade, em ser a segunda (terceira, quarta) opção ou com formas platônicas de sentir. Prefiro ouvir “não gosto o suficiente de você” do que a desculpa mais manjada do planeta “ o problema sou eu”. Prefiro não me casar jamais, do que o fazer por convenções e não por sentimento. Porém não desejo uma paixão desenfreada que arde em ciúmes e logo se esfria quando encontra outra palha para queimar.

Que comece devagar ou rapidamente, desejo somente que seja sincero e forte o suficiente para que suporte a rotina e as diferenças. Em Amor nos Tempos do Cólera, GGM trabalha (em tom muitas vezes bem-humorado) as universais problemáticas do amor e sexo como casamento, diferenças sociais ou envelhecimento, em meio a um triângulo amoroso mexicano entre fim do século XIX e começo do XX. Quando trata do casamento, traz uma frase genial: o problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs antes do café. Acredito nesse tipo de reconstrução.

Ao final da história, encontramos um casal de idosos dentro de um quarto de um barco que não pode aportar por estar contaminado com o vibrião da cólera. E eles se amam como que para sempre no ir e vir de um porto a outro. Como meus avós, que tantas vezes reconstruíram o amor deles, desejo esse tipo de amor. Jamais perfeito, jamais incompleto. Eu os vi brigar muitas vezes e se reconciliarem tantas mais; mas sei que a última palavra antes de morrer do meu avô foi "Nina", com ele chamava minha avó.

Se não for para ser assim, que não seja.




4 comentários:

  1. A visceralidade tanto impulsiona quanto machuca, e os dois são bons ao seu tempo.

    Mas o que fazer quando os sentimentos faltam? O que eu mais tenho presenciado ultimamente são pessoas que se tornaram vazias por conta da própria visceralidade.

    Escolher sentir, escolher deixar de sentir... acho que é pra saber escolher o momento certo de cada um deles que a gente vive.

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  2. que texto lindo Aninha! ah queria saber escolher as palavras como você faz. muito bom =)

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  3. como ter um amor pela metade se o mundo todo prega em entrega por completo? trabalho tem que haver uma entrega por completo, aos amigos tem que haver uma entrega por completo, e porque nao ao amor? por que nessa area nao ter uma entrega por completo? como é tao dificil saber se realmente esta fazendo o certo?

    acredito que tudo isso seja uma questao muito simples: escolhas! basta apenas termos a inteligencia e a sabedoria pra saber qual decisao tomamos e qual será a correta..

    nao se Aninha concorda comigo, mas esse é um ponto de vista que tenho com relação a vida.. se aninha nao concordar comigo, peço que exponha o que pensas..

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  4. na verdade não entendi muito bem qual a relação das escolhas com o amor completo. =)

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