"Nós, porém, não somos cupins. Somos homens" Saint-Exupéry*
22 milhões de dólares foi o que custou o resgate dos 32 mineiros chilenos e um boliviano que se encontravam presos na mina que desabou há aproximadamente um mês. Conta que foi paga por empresas multinacionais interessadas na grande audiência da operação – que ultrapassou a da Copa do Mundo. Por aritmética simples, chegaremos à conclusão que o valor da vida de cada um deles é de cerca de 670 mil dólares.
Se você pudesse dar um valor a sua vida, de quanto seria? 670 mil dólares? Mais? Menos? Que critério você utilizaria para o cálculo?
Para minha vida consideraria os investimentos feitos ano a ano em meu crescimento por outras pessoas, como meus pais e a sociedade. Somaria a quantidade de fraldas que usei, às refeições que fiz, lugares que viajei, roupas que vesti, contas de luz, aluguel, água e de escolas particulares; não poderia desconsiderar os investimentos da sociedade especialmente na minha educação já que estudo numa Universidade pública. Quanto isso daria? Não faço idéia; sei apenas que se tivesse que pagar por isso através do meu trabalho futuro acredito que demoraria minha vida inteira. E ainda estaria em débito.
Nessa lógica, a contribuição trabalhista futura de cada mineiro deveria chegar a 670 mil dólares, pois senão não valeriam o custo do salvamento. Pessoas poderiam ter morrido no empreendimento e mesmo assim seria justificável o sacrifício? A questão, entretanto não deveria ser salvar um trabalhador entre tantos outros, 30 seres humanos entre 6 bilhões, como um cupim num cupinzeiro, mas de salvar uma consciência única.
Dentro do crânio de cada mineiro existe um cérebro, uma mente, “um império” como diria Saint-Exupéry, com experiências que jamais poderão ser resgatadas após a morte. Família, livros, idéias, amores, amigos, manias, sonhos, gestos; todos que poderão ser esquecidos ou deixar sua marca e lembrança para as próximas gerações. “O ancestral desse mineiro desenhou, em certa ocasião, uma rena na parede de uma caverna, e esse seu gesto, duzentos mil anos mais tarde, ainda está irradiando. Ainda nos emociona. Prolonga-se, ainda em nós. Um gesto de um homem é uma fonte eterna.” S.E.
Quanto a mim? Não desejo que meus pensamentos morram na escuridão de meu crânio, por isso começo a compartilhá-los hoje. Gosto da serendipidade, de acasos que me levam a descobertas boas, de acontecimentos que me levam a pensar no sentido mais profundo da vida, de fatos que ocorrem sem que eu os tenha planejado, mas que me levam a acreditar no bem, no amor e no valor humanos. Luis Pasteur disse que o acaso só favorece a mente preparada, por isso leio, vejo filmes, oro, e agora escrevo.
E você? Já chegou à conclusão sobre seu valor? Desista da aritmética, não será possível calcular; considere seus gostos, desejos e amores; considere seus amigos, suas experiências, suas comidas favoritas; considere suas músicas, seus estudos, suas idéias. Eles são seu valor. Não os deixe no escuro!